Confira o que aconteceu no mercado na última semana (24/02 a 28/02) e quais são as perspectivas futuras
“Como cair do céu é tão simples
Queda que a tudo e a todos transtorna
As bombas, a chuva, os anjos e os loucos
O mundo todo na velocidade terrível da queda”
A estrofe de “A queda”, música do cantor Lobão, ajuda ilustrar muito bem a última semana de fevereiro para o mercado acionário, onde o pânico tomou conta e colocou à prova o verdadeiro apetite por risco dos investidores contaminados pelo coronavírus.
Com o avanço da epidemia pelo globo e gigantes como Apple e Microsoft alertando para uma queda de receita, as dúvidas sobre um possível impacto do coronavírus na economia global (entenda mais aqui) viraram certeza e abriu caminho para uma realização de lucros que foi muito bem explicada no texto passado (veja aqui).
Agora, concretizada a expectativa, o analista/gestor precisa pensar no seguinte: os preços estão devidamente descontados para ir às compras? Para construir essa lógica, primeiro precisamos ter ideia do impacto no crescimento.
Nesta semana, o Credit Suisse cortou de 2,6% para 2,2% a expectativa de crescimento global em vista dos efeitos na balança comercial e, consequentemente, da atividade industrial neste primeiro trimestre.
Na mesma linha, o JPMorgan reduziu a projeção para o PIB chinês de 4,9% para 1% no primeiro trimestre, sendo que para esse ano o ajuste foi de 5,8% para 5,4%. E com a piora das perspectivas para a economia chinesa, o PIB brasileiro em 2020 foi reduzido de 2% para 1,9%.
Neste mesmo discurso, a ex-presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, disse que, dependendo da extensão da epidemia do coronavírus, o impacto econômico pode ser significativo na Europa e levar os Estados Unidos a uma recessão.
Na contrapartida das notícias ruins, cientistas estão trabalhando para desenvolver a cura e o ministro da Tecnologia e Ciência de Israel, Ofir Akunis, afirmou que uma vacina contra o coronavírus deverá estar pronta em até 3 semanas e disponível para humanos em até 90 dias.
Enquanto grande parte dos países está descobrindo seus primeiros casos, na China, que foi o epicentro da crise, a Comissão Nacional de Saúde espera ter tudo sob controle no fim de abril. Além disso, os números de casos começaram diminuir desde a semana passada.
Embora cerca de 50 países tenham casos diagnosticados com Covid-19, a China soma 95% dos casos de infeção pelo novo coronavírus a nível mundial. O balanço provisório da epidemia são de 2.800 mortos e mais de 82 mil pessoas infectadas.
Com tudo isso posto, é possível concluir:
i) primeiro trimestre será o grande vilão do PIB;
ii) não estamos falando de algo estrutural como uma crise financeira;
iii) recessão nos EUA é sinônimo de política monetária expansionista;
Se colocarmos tudo isso na conta + bolsa brasileira retornando aos níveis de outubro do ano passado, aquela relação de risco x retorno totalmente desfavorável com o mercado aos 118 mil pontos fica no mínimo interessante 16 mil pontos abaixo.
Para completar, vale destacar a lógica da questão da política monetária, em especial no Brasil: menor crescimento projetado = menor pressão inflacionária = maior espaço para corte da Selic ou manutenção no atual nível = maior upside projetado.
Agenda econômica da próxima semana
A primeira semana de março começa com o PMI Industrial da Zona do Euro (6h00) e dos EUA (11h45) ambos de fevereiro, que será acompanhado de perto em vista dos impactos do coronavírus.
Na quarta (9h00) será divulgado o PIB brasileiro referente ao quarto trimestre, enquanto nos EUA (10h15) o ADP Employment de fevereiro. Depois da prévia do setor privado, na sexta (10h30) teremos o Relatório de Emprego.