Cinco empresas que sobreviveram a crises. Você tem essas ações?

Aprenda a analisar como os principais setores devem se comportar durante a turbulência e faça as melhores escolhas

A bolsa cai, o dólar sobe, as incertezas dominam o mercado. Em tempos de crise, uma bola de cristal seria muito bem-vinda para mostrar como a economia irá se comportar no futuro.

Mas, como não temos esse artifício, uma saída inteligente é fazer uma análise de como os principais setores presentes na bolsa de valores performaram em situações críticas do passado e como se recuperaram. Neste artigo, você irá entender um pouco sobre como alguns dos principais setores enfrentaram as recessões de 2008 e 2014 e como eles podem ser impactados nesse momento.

Além disso, falaremos de cinco empresas que conseguiram apresentar boa recuperação nessas crises anteriores. O futuro é incerto, mas olhar o passado pode ajudar a tirar boas conclusões para tomarmos as melhores decisões no presente. Vamos lá?

Turismo e setor aéreo

Quando falamos sobre impactos negativos da crise do coronavírus na economia, o setor mais óbvio é o de turismo e viagens.

Por conta da quarentena, há uma avalanche de pessoas cancelando voos, sendo que 85% das viagens de turismo no período foram canceladas. Sem dúvida, isso trará um impacto muito significativo na receita dessas empresas.

Varejo

A princípio, houve quem achasse que esse setor não seria tão afetado. Entretanto, a restrição de circulação e o fechamento do comércio em virtude da quarentena prometem impactos consideráveis para o varejo.

Ainda que algumas empresas possam contar com o e-commerce para continuar circulando suas mercadorias, as lojas físicas fechadas e a ausência de pessoas consumindo nas ruas irão resultar em queda nas vendas. Além disso, muitas pessoas estão com medo de uma possível recessão e a tendência é que passem a consumir apenas o essencial.

Ainda não sabemos ao certo a extensão do prazo de restrição de circulação por conta do vírus e a perspectiva para o varejo pode ser melhor ou pior, de acordo com essas medidas. De qualquer forma, um impacto negativo já é esperado.

Imobiliário

Menos afetado que os dois primeiros, o setor imobiliário também aparece entre as áreas da economia que prometem absorver algum impacto da crise, mesmo que médio ou baixo.

É esperado algum nível de inadimplência no pagamento de unidades já adquiridas e esse problema pode recair sobre os bancos, mas também sobre as construtoras que financiam direto para o cliente.

A redução das vendas também deve acontecer, já que ninguém está saindo para visitar empreendimentos e fechar negócio. Até mesmo algumas obras estão paradas, o que pode resultar em atraso nas entregas e onerar as empresas que precisarão ressarcir o consumidor que for lesado por não conseguir mudar dentro do prazo prometido.

Financeiro

É comum pensar que os bancos são resilientes e que não sofrem com a crise. Entretanto, mesmo com grandes receitas e entregando lucros estratosféricos, essas instituições podem ter um impacto de médio a baixo por conta da inadimplência que deve crescer bastante.

O índice de PDD, que a provisão de devedores duvidosos, deve aumentar. Alguns bancos já anunciaram medidas postergando o pagamento de empréstimos sem o acréscimo de juros. Logo, essas instituições assumirão essas despesas.

Mas o setor financeiro não é formado só por bancos, seguradores e a própria bolsa de valores também fazem parte e podem ser impactados, mas de uma forma diferente. Na bolsa, por exemplo, o que se observa é um grande aumento no número de pessoas que estão negociando ativos. Esse movimento pode ser favorável, apesar de também ter muita gente assumindo prejuízo e saindo da bolsa.

Energia e saneamento

Agora vamos às previsões otimistas. Energia e saneamento são setores que devem ser nada ou pouco afetados pela crise atual. Por se tratar de algo essencial, o consumo desses setores não diminui mesmo em cenários economicamente adversos.

Você não pretende passar a quarentena à luz de velas, não é mesmo? Salvo se houver alguma crise específica no setor, como uma crise hídrica, por exemplo, essas empresas tendem a ir bem.

Entretanto, um ponto muito importante sobre todas as empresas, não somente de energia e saneamento, é que é necessário analisar se as companhias possuem alguma despesa em dólar e alguma receita nessa moeda também, para fazer o equilíbrio da balança. Caso não haja esse equilíbrio, é preciso procurar um hedge, uma proteção que a empresa possa fazer por essa variação cambial. O dólar se valorizou muito nos últimos dias e isso pode impactar no custo das empresas.

Alimento e bebida

Esse setor deve ter um impacto baixo, porque as pessoas continuam consumindo alimentos e bebidas. O que pode afetar levemente o resultado dessas empresas é justamente a questão das commodities e do dólar.

Algumas companhias tem um custo alto em dólar e podem sofrer um pouco se não tiverem algum tipo de receita dolarizada. Mas como muitas que estão nesses setores também são exportadoras, o problema é minimizado.

Analise atentamente o cenário

Em tempos de confinamento, proponho um exercício muito produtivo: aproveite para olhar cada um dos setores presentes na bolsa de valores e inseri-los na realidade atual.

Tente entender o impacto que cada um deles deve enfrentar diante das mudanças pelas quais a sociedade e a economia estão passando. Temos pessoas reclusas em casa, sem consumir determinados produtos. Por outro lado, consumindo alguns itens em grande quantidade, como produtos relacionados à saúde e à higiene. A indústria farmacêutica, por exemplo, promete acumular lucros.

Porém, apesar de ser importante analisar e tentar prever o rumo dos principais setores, não podemos deixar de avaliar empresa a empresa, considerando suas particularidades e estudando seu comportamento em crises passadas.

Para demonstrar a utilidade de observar esses dados, veremos abaixo informações sobre as empresas Vale, Itaú, Taesa, Lojas Renner e Sabesp. São cinco companhias de setores diferentes que já estavam na bolsa de valores nas crises de 2008 e 2014.

Começaremos avaliando as cotações no ano anterior à crise de 2008, no próprio ano e no seguinte.

 


VALE3

ITUB4TAEE11LREN3


SBSP3


2007

68,3%18,2%28,0%22,0%16,3%


2008

-63,8%

-17,1%-17,7%-56,4%

-27,1%


2009

57,9%

57,1%78,7%106,8%

24,3%

Veja a tabela acima. A Vale subiu 68% em 2007, caiu 63% com a crise em 2008 e em 2009 voltou a subir. As demais empresas se comportaram de forma parecida no período.  Algumas subiram muito mais do que caíram. Outras se recuperaram mais ou menos na mesma faixa, como a Sabesp. Já a Lojas Renner caiu 56% para depois subir 106%.

Uma conta que é importante saber fazer é qual a valorização necessária para recuperar determinada desvalorização. Por exemplo, se você tinha 100 reais de patrimônio e perdeu 50% em uma crise, você ficou com 50 reais. Para voltar a ter os mesmo 100 reais, você precisa de um ganho de 100%, já que agora o seu capital é menor.

Confira a tabela abaixo com os percentuais:

% desvalorização

% valorização

5%

5,3%

10%

11,1%

15%

17,6%
20%

25%

25%

33,3%

30%

42,9%

35%

53,8%

40%

66,7%
45%

81,8%

50%

100%
55%

122%

60%

150%
65%

185,7%

70%

233,3%
75%

300%

80%

400%
85%

566,7%

90%

900%
95%

1.900%

Agora veremos a tabela das cinco empresas selecionadas com as cotações de 2007 a 2016:

 


VALE3

ITUB4TAEE11LREN3


SBSP3


2007

68,3%18,2%28,0%22,0%

16,3%


2008

-63,8%-17,1%-17,7%-56,4%-27,1%
200957,9%57,1%78,7%106,8%

24,3%


2013

9,2%8,8%-5,6%-21,4%-3,8%
2014-39,8%27,7%20,9%27,2%

-36,1%


2015

-37,5%-9,8%2,3%18,7%21,2%
201694,5%48,8%42,2%34,6%

47,1%

Olhando para os números de 2013, já podemos observar algumas empresas sendo impactadas. Mas em 2014 e 2015, quando a recessão chegou mais forte, as quedas foram mais consideráveis. Somente em 2016 é possível observar a recuperação e, de lá pra cá, a bolsa mais do que dobrou de valor.

Entretanto, não devemos nos ater apenas às cotações. É importante analisar como as empresas performaram na entrega de lucro e resultado. Veja a tabela:

 


VALE3

ITUB4TAEE11LREN3


SBSP3


2007

20 B9,8 B214,2 M150,7 M

1,04 B


2008

21,3 B10,6 B287,8 M162,4 M1,08 B
200910,3 B10,1 B287,8 M189,6 M

1,37 B


2013

115 M16,5 B892,85 M407,7 M1,92 B
2014219 M21,86 B904,85 M471,42 M

902,98 M


2015

-45,9 B23,58 B909,42 M578,84 M536,28 M
201613,3 B24,25 B862,07 M625,06 M

2,95 B

A Vale lucrou muito em 2007 e 2008. Depois, com o impacto da crise, em 2009, ela entregou um resultado ruim. Observe que o que está acontecendo agora só terá um resultado depois, como aconteceu nos anos seguintes à crise de 2008.

Já o Itaú, mesmo em meio a uma crise financeira, conseguiu se manter constante. Mesmo inserida no varejo, que poderia ser muito impactado, a Lojas Renner conseguiu apresentar bons resultados. A Sabesp também teve lucros constantes e foi pouco impactada pela crise, conseguindo se recuperar muito bem posteriormente.

Dica: Reveja sua carteira

Com essas informações, analise as empresas presentes na sua carteira e revalie o peso de cada uma delas levando em consideração o cenário atual. Verifique se você possui ações de empresas que serão mais ou menos impactadas pela crise do coronavírus e rebalanceie os ativos de maneira inteligente.

Boa análise!